Consórcio de universidades brasileiras e europeias começa a testar, no
próximo ano, a chamada rede definida por software (SDN). Entre outras
vantagens, o sistema transfere o comando da web %u2014 hoje nos
roteadores %u2014 para a nuvem, garantindo acesso mais rápido e barato
No primeiro semestre de 2013, mais de 10 universidades e instituições de
pesquisa no Brasil e cerca de seis centros da Europa se conectarão a
uma rede experimental que abrirá as portas para a internet do futuro. O
projeto Fibre (Future Internet Testbeds Experimentation between Brazil
and Europe) é um consórcio de cooperação bilateral em que pesquisadores
europeus e brasileiros poderão dividir experiências para implementar e
validar o revolucionário conceito de rede definida por software (SDN,
pela sigla em inglês).
Pelo Fibre, pesquisadores de instituições como a Universidade de São
Paulo (USP), a Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) e o Centro de
Pesquisa e Desenvolvimento em Telecomunicações (CpQD) terão a
oportunidade de desenvolver softwares de rede próprios, que podem ser,
inclusive, livres (com códigos abertos), em um ambiente de teste
repartido. Ou seja, o que uma instituição fizer, não necessariamente vai
influenciar na rede em conjunto, já que haverá como reparti-la. Além
disso, será possivel também criar uma rede na nuvem, por meio de
máquinas virtuais em que o software rode em apenas um computador, mas
que os fluxos de dados sejam transmitidos a vários outros. Os testes
começam no começo do ano que vem e prometem mudar os paradigmas da
internet.
Para tanto, uma das principais tecnologias envolvidas é o OpenFlow,
criado em 2008 pela Universidade de Stanford, nos Estados Unidos.
Entender os avanços trazidos por essa interface exige antes uma melhor
compreensão de como a web é operada atualmente. Para montar uma rede de
internet hoje, é preciso utilizar equipamentos como roteadores e
switches. Os primeiros são aparelhos que transmitem a rede de internet e
possibilitam a comunicação entre computadores distantes entre si. O
switch, por sua vez, foi criado para que um único sinal de internet
possa ser dividido por mais computadores de uma LAN (local area
network). Para que a internet de um escritório seja dividida entre os
vários computadores do local, por exemplo, basta colocar o cabo do modem
no switch e, a partir do aparelho, levar vários cabos aos computadores
da empresa.
Os switches e roteadores são caixas-pretas. As pessoas não têm a mínima
ideia do que têm dentro. Elas simplesmente os usam. Esses equipamentos,
no entanto, são divididos em duas partes. Uma é a parte da
inteligência, que toma as decisões sobre o que fazer com os dados que
chegam ao aparelho (o software). A outra segue essas decisões e faz com
que o tráfego de dados que chega por um lado saia pelo outro
(hardware), explica Marcos Rogério Salvador, gerente de Evolução de
Tecnologia de Redes Convergentes do CPqD, instituição responsável por
implantar a tecnologia OpenFlow no Fibre.
Um dos grandes problemas desse sistema é que somente o próprio
fabricante tem condições de alterar a inteligência que está no aparelho
e, dessa forma, a tecnologia fica concentrada na mão de poucas empresas.
O resultado: menos competição, preços mais altos e poucas aplicações de
rede. Quando você compra um equipamento desses, você tem que se
adequar ao que ele te oferece, critica Salvador. O ponto principal do
OpenFlow é justamente reverter essa limitação e permitir que o software
que define a rede seja retirado dos roteadores e switches para começar a
ser gerenciado fora desses equipamentos, nos próprios computadores.
Soluções
Atualmente, quando você compra um roteador, ele já vem com o software
embutido. Você não pode mexer nele, ele foi dado pela empresa que vendeu
o equipamento. O OpenFlow permite que as pessoas façam um programa de
rede separado da caixa, explica Cesar Marcondes, professor do
Departamento de Computação da Universidade Federal de São Carlos
(UFSCar). Coordenador regional do projeto Fibre, Marcondes esclarece que
uma das grandes vantagens é possibilitar que o próprio usuário possa
programar sua rede de acordo com demandas específicas.
Ou seja, na era da rede por software, o usuário continua comprando
equipamentos como o roteador, mas eles não vêm com a inteligência
embutida. Estima-se que, com isso, o preço desses equipamentos caia
cerca de 80%. O Google, em março deste ano, disse que está rodando
OpenFlow na rede de data centers dela. Ela tem data centers espalhados
pelo mundo todo. Isso significa que ela pode programar a rede dela para
que certas conexões sejam encaminhadas para local em vez de outro e
programar melhor seus recursos, exemplifica.
A rede Fibre, nesse sentido, tem suporte a OpenFlow, mas também a outros
mecanismos que permitirão aos pesquisadores experimentarem soluções
novas para a internet do futuro. Marcondes acrescenta que por isso, em
cada país, existem projetos de pesquisa que desenvolvem uma rede de
experimentação, permitindo ao pesquisador testar novas soluções sem
prejudicar a conexão dos usuários. A internet é um bem tão valioso que
ninguém quer deixar de fazer testes com ela. Os usuários dependem muito
dela, estão sempre conectados, por isso a rede não pode ficar caindo e
falhando, explica.
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