segunda-feira, 28 de março de 2011

Telepresenciais atraem docentes de universidades

Entre as vantagens estão maiores salários e mais visibilidade, já que o professor dá aula para alunos espalhados por todo o País

Ocimara Balmant - O Estado de S.Paulo

Ao aviso de que as câmeras estão ligadas, Rogério Sanches Cunha olha para as lentes e "enxerga" 10 mil alunos espalhados por mais de 400 cidades do País. Nas próximas três horas, sua missão é fazer com que esses "concurseiros" aprendam mais um capítulo de Direito Penal. Enquanto Cunha fala em São Paulo, salas lotadas o assistem pelo telão, de Curitiba a Manaus.

"Não pestanejei na primeira oportunidade que tive de ir para o telepresencial", diz ele, que trocou as aulas em uma universidade de Campinas para se dedicar ao ensino a distância em cursos preparatórios para concursos públicos.

Cunha não é exceção. O crescimento dos cursos via satélite abriu um novo nicho para professores. Em todo o País, há cerca de mil unidades com mais de 250 mil alunos. Só a Rede de Ensino LFG, a maior do Brasil e onde Cunha trabalha, tem400 pontos.

O pacote de benefícios é atraente. Enquanto a hora/aula de um mestre em uma faculdade gira em torno de R$ 30 e nos cursos presenciais aumenta para R$ 100, no ensino telepresencial chega a R$ 500.

"Muitas vezes, o aluno compra o professor, não o curso. Faz sentido o valorizarmos", afirma Fernando Castellani, da coordenação pedagógica do Damásio. O curso tem cerca de 20 mil alunos telepresenciais e cresceu 75% em 2010.

Segundo a diretora executiva da Associação Nacional de Proteção e Apoio aos Concursos (Anpac), Maria Thereza Sombra,um terço dos cursos já oferece a modalidade a distância. "É um mercado muito rentável. O número de alunos cresce absurdamente e, faturando mais, o curso paga mais aos professores."

Além da remuneração, a modalidade oferece mais visibilidade. Como fica conhecido no País todo, o professor é convidado para palestras e fideliza o público consumidor de seus livros.

Uma terceira vantagem é a entrada de docentes desconhecidos no circuito. "Antes, os professores famosos eram todos do Sudeste. O telepresencial possibilita que gente do Brasil todo dê aula para a mesma turma", diz Ricardo Ferreira, autor do Manual dos Concurseiros e idealizador da Feira do Concurso.

"O telepresencial é quase como uma progressão na carreira do professor", afirma Nathália Masson, professora de Direito Constitucional do Praetorium. Aos 28 anos, ela é a professora mais jovem do curso, que tem sede em Belo Horizonte. Começou no sistema quando tinha 24 anos e não pretende sair.

Toda semana, Nathália ministra cerca de 20 aulas a distância. "É comum eu gravar pela manhã e à noite. Às vezes, até à tarde. Falo para muita gente em um dia só. Quando digo boa noite, falo boa noite para mil alunos."

A superexposição, apesar de bem remunerada, exige do corpo e da cabeça, dizem os professores. "Minha preocupação com cem alunos é uma. Com mil, é dez vezes maior", diz Nathália. "Tenho de manter a atenção com o foco da câmera e também com a organização e o enquadramento da matéria no quadro."

Mercado disputado. Os altos salários e a oportunidade de se destacar provocam um aumento da procura. Nos processos seletivos, não faltam inscritos. A concorrência chega a ser de 15 candidatos por vaga. "Muitos querem, mas não temos muitos habilitados", diz Darlan Barroso, que dá aulas e coordena os cursos preparatórios para OAB na LFG. "O que vemos são pessoas com dom, mas que precisam ser lapidadas com técnicas de postura e exercícios de voz, por exemplo."

Só escapa da concorrência quem leciona disciplinas que entraram recentemente na bibliografia dos concursos públicos, como arquivologia e filosofia do direito. "Para essas matérias, por enquanto, chegam a sobrar vagas", afirma Ricardo Ferreira, da Feira do Concurso.

E o leque tem aumentado. Até carreiras mais tradicionais, como Medicina, já começaram a tatear nesse terreno. O curso SJT, que oferece aulas preparatórias para quem vai prestar residência médica, começou a gravar, editar e vender seu conteúdo. A modalidade já tem mil alunos e a expectativa é que a procura aumente 30% neste ano. Nos dias em que a aula é gravada, a remuneração do professor cresce 20%.

Falta espaço. Nas carreiras mais tradicionais nos concursos públicos, como as jurídicas e fiscais, parte dos interessados em lecionar é gente com bastante experiência em aulas preparatórias para concursos que ficou sem emprego exatamente por conta dessa tecnologia.

É que, com a difusão da transmissão via satélite, os cursos presenciais perderam espaço. É comum concurseiros que moram no interior ou fora do eixo São Paulo-Rio de Janeiro abandonarem seus cursos locais e se matricularem nos oferecidos pelas grandes franquias.

O resultado é um mercado que paga bem para quem consegue espaço, mas que economiza no número de profissionais necessários. O promotor de Justiça Gustavo Gazzola, por exemplo, lecionava em dois cursos preparatórios no interior de São Paulo. Com a chegada dos telepresenciais, um fechou e o outro se tornou unidade do Damásio.

"Para o professor que só trabalhava lá, significou desemprego", diz ele. Gazzola chegou a dar algumas aulas como professor convidado da Rede LFG, mas optou por aumentar sua carga horária nas universidades onde lecionava.

Apesar do aumento do interesse dos docentes, há muitos professores que consideram que ministrar aulas em universidade traz mais prestígio acadêmico. Segundo eles, escrever um livro direcionado a concurseiros, por exemplo, pode prejudicar o reconhecimento na academia.

PARA ENTENDER

Aula ao vivo pode alcançar 10 mil alunos

Normalmente, o professor ministra uma aula durante três horas em um estúdio vazio ou com alguns alunos. Na maioria das vezes, essa aula é veiculada ao vivo, em telões instalados em unidades de todo o País. Há casos em que 10 mil alunos assistem ao mesmo conteúdo simultaneamente. Ao vivo, os concurseiros enviam perguntas por e-mail. É comum o docente responder citando o nome do aluno, uma forma de prender a atenção e criar proximidade com o público.

Teste avalia didática e relação com câmeras

Para postar-se frente às câmeras, não basta ostentar um bom currículo e uma produção científica farta. "Nosso professor fala para 6 mil alunos, por isso a questão da didática é tão importante. Ele precisa mostrar desenvoltura com a câmera", afirma Fernando Castellani, coordenador pedagógico do Damásio.

Ali, para cada vaga de docente telepresencial há cerca de 15 concorrentes. A seleção, como em quase todos os cursos da categoria, é feita por aula-teste. O candidato expõe seu conteúdo a duas ou três câmeras e os avaliadores o assistem de outra sala.

Se aprovado, o professor recebe orientação de fonoaudiólogo e psicólogo e, a partir da primeira aula, passa a ser avaliado periodicamente pelos alunos espalhados por centenas de cidades. "Se o problema é ele olhar para o infinito e não para a câmera, uma orientação costuma resolver. Se for mais sério, ele refaz o curso. Se, mesmo assim, persistir, ele acaba demitido", diz Castellani.

No rede LFG, o professor Darlan Barroso conta que acompanha o trabalho dos docentes diariamente. "Na minha sala, tenho uma TV ligada e vejo a evolução. A primeira aula é mais ou menos, a segunda melhora e assim vai, até a pessoa entrar no ritmo."

Nathália Masson, do Praetorium, diz que se sente avaliada todos os dias. "Após cada aula, o aluno diz o que pensa. E o estudante a distância, exatamente por estar longe, não hesita em pedir a saída de quem ele não aprova." Para a professora, a melhor forma de dar uma boa aula e ser bem avaliada é incluir o aluno. "Olho para lente como se estivesse olhando para ele. Preciso que ele sinta que participa daquela aula, daquele espetáculo."

Fonte: O Estado de São Paulo

quinta-feira, 10 de março de 2011

Universidades Corporativas: Estamos realmente aprendendo?

Semana Passada saiu um artigo no Valor Econômico sobre Universidades Corporativas e investimento em capacitação. Sempre olhe esses artigos com suspeita.

Falam muito sobre o investimento em reais que é feito na capacitação dos colaboradores e como isso é bom para as empresas e para o país. Claro, investir em educação, capacitação técnica e gerencial é muito importante e necessário para que as empresas fiquem mais competitivas e preparadas. Mas o que me preocupa não é isso. O que me procupa é a estratégia, o formato, a metodologia e o conteúdo da capacitação (ou treinamento, ou educação, conforme a sua filosofia).

Muitas vezes, ainda ficamos presos à antiga maneira de capacitar as pessoas. Olhamos para o treinamento em salas de aula em vez de olhar para o processo de APRENDIZAGEM da pessoa, das equipes e da organização. É necessário fazer a conexão da capacitação com o dia a dia do trabalho das pessoas. E isso não significa somente mostrar exemplos de como o conhecimento é aplicado na prática. Isso significa:

- Aprender fazendo, fazer com que a pessoa aprenda em situações reais no curso: uso de jogos;
- Garantir que a pessoa implemente o aprendizado na prática: garantia de comprometimento por meio de metas e posterior cobrança;
- Apoiar a pessoa na aplicação prática: acompanhamento, oportunidades de feedback, manuais, vídeos e FAQs;
- Comunicar: comunicação dos resultados obtidos com as aplicações, das pessoas que ganharam com tais aplicações etc;
- Apoiar a aprendizagem em grupo: conexão das pessoas com os seus pares para trocar experiências e tirar dúvidas;
- Fazer a empresa aprender e aprimorar o processo de aprendizagem: fóruns de feedback sobre a aplicação da teoria na prática.

A aprendizagem acontece pela incorporação do conhecimento e, por sua vez, a incorporação funciona melhor quando a pessoa entra em um ciclo contínuo de prática e feedback. Quando pensar em sua Universidade Corporativa leve em conta o ciclo de aprendizagem e a gestão do conhecimento de sua organização.

Postado por Caspar Van Rijnbach
Twitter: @casparrijn


Fonte: Portal Terra Forum