quinta-feira, 13 de setembro de 2012

Aceitação à EaD no mercado de trabalho é cada vez maior

“A educação a distância deixou de ser tendência e hoje é uma lógica em todos os níveis de ensino”, afirma Tiago Sereza, gerente de integração da Catho Educação, ligada ao site de classificados de currículos e vagas de emprego de mesmo nome, que está entre os de maior audiência da América Latina nesse segmento. Segundo Sereza, o mercado de trabalho brasileiro não faz diferenciação entre candidatos formados por cursos presenciais ou a distância: “O que realmente importa é o conhecimento obtido e a aplicação no dia a dia e não a forma utilizada para obter esse conhecimento”, defende. Fredric Litto, presidente da Associação Brasileira de Educação a Distância (Abed), assume praticamente o mesmo discurso, mas com ressalvas: “Aos poucos, o clima está melhorando. Não está perfeito, mas muita gente reconhece os valores da educação a distância”, avalia.

Determinação, independência, organização e motivação são alguns dos atributos citados tanto por Litto quanto por Ricardo Holz, presidente da Associação Brasileira dos Estudantes de Educação a Distância (Abe-Ead), quando se referem aos requisitos para o aluno de EaD ter sucesso em sua formação. Segundo ambos, são características imprescindíveis ao aluno e muito valorizadas no candidato a uma vaga de emprego. Sereza, da Catho, confirma: “Muitas empresas conseguem visualizar no aluno que participa desse modelo de curso (a distância) grandes diferenciais”.

Holz, da Abe-Ead, tem vasta experiência no assunto. Ele terminou o ensino médio por meio do Telecurso 2000, uma parceria da Fundação Roberto Marinho com prefeituras, governos estaduais e entidades privadas, como a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), para complementar, via TV, a educação de quem precisou abandonar os estudos. Depois, Holz fez graduação em gestão pública e MBA na mesma área, ambos os cursos por EaD e na mesma instituição, a Fundação Getúlio Vargas (FGV). Nesse meio tempo, ajudou a fundar a Abe-Ead e abriu uma empresa de consultoria no uso da tecnologia na educação.

“Tenho muito nítido na minha cabeça que eu devo isso à educação, e especialmente à educação a distância”, afirma Holz, que tem viajado por diversos países a fim de conhecer os modelos internacionais de EaD. O modelo brasileiro está bastante avançado, ele garante, mas a principal resistência vem de dentro da academia: “Aqui no Brasil, o MEC (Ministério da Educação) proíbe cursos totalmente online; as avaliações têm que ser presenciais. E eu não estou dizendo que o Brasil está preparado para ter avaliações virtuais, por exemplo, mas essa diferença você percebe nitidamente – lá fora (no exterior), as universidades têm uma liberdade maior sobre como trabalhar o conteúdo. Aqui no Brasil, existe ainda um pouco de receio”.

Segundo o censo do MEC sobre ensino superior realizado em 2010, cerca de 1 milhão de pessoas estudam à distância no Brasil. Enquanto os cursos de graduação presenciais têm um predomínio de matrículas em bacharelados, a maior parte dos alunos de EaD está matriculada em cursos de licenciatura. O percentual de alunos em cursos tecnológicos de EaD também é muito superior à fatia que esse tipo de formação representa no total de cursos presenciais de graduação.

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O Censo EaD.BR – Relatório Analítico da Aprendizagem a Distância no Brasil, realizado anualmente pela Abed, traz dados mais específicos: das matrículas feitas em 2010 em cursos de EaD, 79,5% foram em cursos de graduação, 11,9% em pós-graduação e o restante em educação de jovens e adultos (EJA), em cursos técnicos e outras modalidades de ensino básico. Segundo esse relatório, as instituições privadas predominam no ensino a distância, com 71,9% do total de matrículas. A região Sudeste também concentra a maioria dos alunos matriculados em EaD, com 71% do total.

O estado de São Paulo é o que mais tem cursos em EaD credenciados pelo MEC: são 122 no total, em 268 municípios. Em seguida, vêm os estados de Minas Gerais, com 112 cursos em 189 municípios, e da Bahia, com 105 cursos em 227 municípios. De acordo com a lista de cursos credenciados disponível no site do MEC, as graduações a distância oferecidas pelo maior número de instituições, nesses três estados, são pedagogia e administração, seguidas de perto por gestão de recursos humanos, gestão financeira e ciências contábeis. Holz observa, no entanto, que alguns concursos públicos para o primeiro ciclo do ensino fundamental, como os que são abertos pela prefeitura de São Paulo, por exemplo, não aceitam candidatos com o diploma de pedagogia obtido em curso de EaD. O número de queixas recebidas pela Abe-Ead relacionadas a esse tipo de problema é grande e os concursos públicos que não aceitam diploma de cursos a distância estão sendo questionados na justiça.

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Para o presidente da Abed, qualquer curso pode ser oferecido, senão totalmente, pelo menos parcialmente a distância. Holz endossa: “É óbvio que é importante entender que algumas áreas, em especial a área da saúde, têm obrigatoriedade e necessidade de atividades presenciais que são insubstituíveis. Tomados esses parâmetros, da necessidade presencial de cada profissão, todos os cursos podem ser a distância”. As áreas do mercado com melhor aceitação de profissionais formados em EaD, de acordo com Tiago Sereza, da Catho, são as de tecnologias da informação, administração, marketing e vendas e recursos humanos.

Para Holz, a educação a distância é muito importante para o desenvolvimento do Brasil. “No interior do Brasil é que a gente tem visto o que a educação a distância está fazendo pelo país. Muitos dos alunos de EaD são pessoas que não estariam no ensino superior se não fosse a educação a distância”, afirma. “A expressão ‘à distância’ dá uma conotação ruim, dá a impressão de que você não está presente, e é o oposto. A tecnologia está aproximando as pessoas da educação; estudar à distância não significa não estudar; os cursos não são mais fáceis, eles são mais difíceis”, completa. O resultado é que desde 2007, os graduados por EaD têm conseguido, em média, nota superior aos que cursam ensino presencial no Exame Nacional de Desempenho de Estudantes (Enade), segundo o Censo EaD.BR 2011. Holz finaliza: “Hoje em dia, a tecnologia é uma realidade, ela está presente nas nossas vidas e não vai embora. Portanto, ela deve, sim, ser inserida na educação”.

Monique Lopes
Fonte: Portal Com Ciência

quinta-feira, 6 de setembro de 2012

Na era virtual, o estudo em redes sociais 
  Sites de relacionamentos para universitários estimulam o compartilhamento de materiais acadêmicos.

RIO - Se depender de iniciativas como a dos estudantes Rodrigo Salvador e André Simões, da PUC-Rio, gastar várias horas do dia nas redes sociais poderá ser sinônimo de muito aprendizado para os universitários. Os dois lançaram recentemente o Passei Direto, um site de relacionamento gratuito, com fins educativos, voltado para jovens do ensino superior. Em ação semelhante, o site Ebah, criado por formandos da USP em 2006, já reúne mais de dois milhões de alunos trocando materiais de estudo.

Essas redes sociais acadêmicas têm como diferencial ferramentas que permitem o compartilhamento de arquivos, como textos da bibliografia pedida pelos professores, listas de exercícios ou avaliações. Depois de selecionar no site a graduação e as disciplinas cursadas, os alunos encontram outros colegas na mesma situação e, além de ganhar acesso ao material compartilhado, podem trocar mensagens tirando dúvidas e debatendo assuntos de determinada matéria. Apesar de às vezes até contarem com a participação de professores, as plataformas são totalmente gerenciadas pelos alunos e independentes das instituições de ensino.

Por enquanto, o Passei Direto é restrito a alunos da PUC-Rio, da PUC-Minas, da Unigranrio, da FGV-SP, da UFRJ e da Uerj, mas, nos próximos meses, será aberto a outras universidades. Em cerca de dois meses, a rede, que pode funcionar integrada ao Facebook, já atingiu cem mil cadastros.

— Nossa ideia era criar um espaço na internet para centralizar o conhecimento. Muitos estudantes já vinham criando grupos de estudo no Facebook. Mas essa rede não tem as ferramentas necessárias para uma interação acadêmica — explica Rodrigo Salvador, sócio-fundador do Passei Direto.

Estudante do 4º período de Relações Internacionais na PUC, Pedro Bertachini é um dos mais ativos na rede social e foi o primeiro a receber o status de “Rei da PUC” — título concedido aos alunos que mais colaboram com arquivos. Como prêmio, ganhou um livro didático no início do período. Segundo os fundadores, esse tipo de recompensa vai se estender também a outras universidades, como forma de estimular o compartilhamento de conteúdo.

— Comprei totalmente a ideia. Eu já espalhava arquivos para a minha turma pelo Drop Box, que era a plataforma que usávamos institucionalmente; então, foi fácil passar o material para a rede. Compartilhei cerca de 180 arquivos. Mas o grande diferencial do Passei Direto é que podemos ter acesso a conteúdo de outras graduações. Relações Internacionais, por exemplo, tem disciplinas de Direito, Sociologia, História. É muito útil — afirma Bertachini.

As redes sociais para universitários remontam às origens do Facebook. Criado por Mark Zuckerberg em 2004, o site era destinado inicialmente apenas a alunos de Harvard. A ideia do programador, no princípio, era criar um site que conectasse toda a universidade.

Em 2006, em São Paulo, Renato Freitas e Ariel Lambrecht, então estudantes da Escola Politécnica da USP, lançaram o site Ebah, uma rede social para o compartilhamento de arquivos. Cursando o último período da faculdade de Engenharia, eles estavam incomodados por ter que procurar listas de exercícios e outros materiais de estudo em lojas de xerox.

— Imaginávamos que se existisse todo aquele conteúdo disponível on-line seria mais econômico e organizado. Até que resolvemos nos juntar para tocar esse projeto — lembra Freitas.

O Ebah está disponível em praticamente todas as universidades reconhecidas pelo Ministério da Educação. São Paulo é o estado com maior participação no site, tendo 21% dos dois milhões de usuários. Minas Gerais e Rio vêm empatados em segundo lugar, com 10% dos cadastrados, cada um.

Já com um caráter institucional, a Universidade Federal Fluminense (UFF) também tem sua própria rede social, a Conexão UFF. Por ser administrada pela universidade, os professores centralizam o conhecimento. Para um aluno compartilhar determinado conteúdo, o arquivo deve ser aprovado pelo titular da disciplina.

O compartilhamento de textos e trabalhos acadêmicos, no entanto, esbarra nos limites da propriedade intelectual. Para o advogado José Carlos Vaz e Dias, professor de Direito da Propriedade Intelectual da Uerj, a reprodução reiterada de materiais pode ser classificada como violação ao direito autoral, mesmo que virtualmente:

— A reprodução de pequenos trechos de um livro pode ser permitida, em um primeiro momento, mas será violadora se for continuamente compartilhada para dar acesso a um número crescente de pessoas, mesmo que pela internet.

O advogado alerta também que quem usar o material compartilhado pelos colegas como de sua autoria cometerá crime de violação do direito moral do autor. Como sugestão aos desenvolvedores, para evitar problemas, o professor recomenda a realização de campanhas dentro das redes sociais para incentivar o respeito aos direitos autoriais, além de políticas punitivas, como a advertência ou expulsão de usuários que infrigirem a propriedade intelectual.
Fonte: O Globo