segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

Internet do futuro
  Consórcio de universidades brasileiras e europeias começa a testar, no próximo ano, a chamada rede definida por software (SDN). Entre outras vantagens, o sistema transfere o comando da web %u2014 hoje nos roteadores %u2014 para a nuvem, garantindo acesso mais rápido e barato

No primeiro semestre de 2013, mais de 10 universidades e instituições de pesquisa no Brasil e cerca de seis centros da Europa se conectarão a uma rede experimental que abrirá as portas para a internet do futuro. O projeto Fibre (Future Internet Testbeds Experimentation between Brazil and Europe) é um consórcio de cooperação bilateral em que pesquisadores europeus e brasileiros poderão dividir experiências para implementar e validar o revolucionário conceito de rede definida por software (SDN, pela sigla em inglês).

Pelo Fibre, pesquisadores de instituições como a Universidade de São Paulo (USP), a Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) e o Centro de Pesquisa e Desenvolvimento em Telecomunicações (CpQD) terão a oportunidade de desenvolver softwares de rede próprios, que podem ser, inclusive, livres (com códigos abertos), em um ambiente de teste repartido. Ou seja, o que uma instituição fizer, não necessariamente vai influenciar na rede em conjunto, já que haverá como reparti-la. Além disso, será possivel também criar uma rede na nuvem, por meio de máquinas virtuais em que o software rode em apenas um computador, mas que os fluxos de dados sejam transmitidos a vários outros. Os testes começam no começo do ano que vem e prometem mudar os paradigmas da internet.

Para tanto, uma das principais tecnologias envolvidas é o OpenFlow, criado em 2008 pela Universidade de Stanford, nos Estados Unidos. Entender os avanços trazidos por essa interface exige antes uma melhor compreensão de como a web é operada atualmente. Para montar uma rede de internet hoje, é preciso utilizar equipamentos como roteadores e switches. Os primeiros são aparelhos que transmitem a rede de internet e possibilitam a comunicação entre computadores distantes entre si. O switch, por sua vez, foi criado para que um único sinal de internet possa ser dividido por mais computadores de uma LAN (local area network). Para que a internet de um escritório seja dividida entre os vários computadores do local, por exemplo, basta colocar o cabo do modem no switch e, a partir do aparelho, levar vários cabos aos computadores da empresa.

“Os switches e roteadores são caixas-pretas. As pessoas não têm a mínima ideia do que têm dentro. Elas simplesmente os usam. Esses equipamentos, no entanto, são divididos em duas partes. Uma é a parte da inteligência, que toma as decisões sobre o que fazer com os dados que chegam ao aparelho (o software). A outra segue essas decisões e faz com que o tráfego de dados que chega por um lado saia pelo outro (hardware)”, explica Marcos Rogério Salvador, gerente de Evolução de Tecnologia de Redes Convergentes do CPqD, instituição responsável por implantar a tecnologia OpenFlow no Fibre.

Um dos grandes problemas desse sistema é que somente o próprio fabricante tem condições de alterar a inteligência que está no aparelho e, dessa forma, a tecnologia fica concentrada na mão de poucas empresas. O resultado: menos competição, preços mais altos e poucas aplicações de rede. “Quando você compra um equipamento desses, você tem que se adequar ao que ele te oferece”, critica Salvador. O ponto principal do OpenFlow é justamente reverter essa limitação e permitir que o software que define a rede seja retirado dos roteadores e switches para começar a ser gerenciado fora desses equipamentos, nos próprios computadores.

Soluções
“Atualmente, quando você compra um roteador, ele já vem com o software embutido. Você não pode mexer nele, ele foi dado pela empresa que vendeu o equipamento. O OpenFlow permite que as pessoas façam um programa de rede separado da caixa”, explica Cesar Marcondes, professor do Departamento de Computação da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar). Coordenador regional do projeto Fibre, Marcondes esclarece que uma das grandes vantagens é possibilitar que o próprio usuário possa programar sua rede de acordo com demandas específicas.

Ou seja, na era da rede por software, o usuário continua comprando equipamentos como o roteador, mas eles não vêm com a inteligência embutida. Estima-se que, com isso, o preço desses equipamentos caia cerca de 80%. “O Google, em março deste ano, disse que está rodando OpenFlow na rede de data centers dela. Ela tem data centers espalhados pelo mundo todo. Isso significa que ela pode programar a rede dela para que certas conexões sejam encaminhadas para local em vez de outro e programar melhor seus recursos”, exemplifica.

A rede Fibre, nesse sentido, tem suporte a OpenFlow, mas também a outros mecanismos que permitirão aos pesquisadores experimentarem soluções novas para a internet do futuro. Marcondes acrescenta que por isso, em cada país, existem projetos de pesquisa que desenvolvem uma rede de experimentação, permitindo ao pesquisador testar novas soluções sem prejudicar a conexão dos usuários. “A internet é um bem tão valioso que ninguém quer deixar de fazer testes com ela. Os usuários dependem muito dela, estão sempre conectados, por isso a rede não pode ficar caindo e falhando”, explica.
Fonte: Correio Braziliense - Brasília/DF
Harvard on line e de graça 
  O professor Walter Sinnott-Armstrong, da Universidade Duke (EUA), fez uma aposta: se um terço dos alunos que começaram a assistir a suas aulas na semana passada chegar ao fim do curso, ele vai raspar e doar o cabelo a uma instituição que faz perucas para pessoas com câncer.

Baixa autoestima? Não. Apenas realismo: o curso do professor tem 166.872 estudantes. As aulas são dadas no site Coursera (coursera.org), que reúne 207 disciplinas de 33 universidades dos EUA, da Europa, da Ásia e do Oriente Médio -tudo de graça.

Onde quer que esteja, o aluno precisa só de um computador e de conexão banda larga. Depois de se cadastrar, assiste às aulas em vídeo, lê textos e resolve provas. No fim, recebe um certificado.

O Coursera é a maior, mas não a única iniciativa do tipo. Das dez melhores universidades do mundo segundo o ranking Times Higher Education, todas têm conteúdo gratuito on-line. Delas, seis têm disciplinas inteiras.

O site edX.org reúne a Universidade Harvard, o MIT (Instituto de Tecnologia de Massachusetts), a Universidade da Califórnia em Berkeley e a Universidade do Texas com esse mesmo propósito.

A ideia de boa educação superior ao alcance de todos ganhou corpo em 2012 com o conceito de Mooc, sigla que em inglês significa "cursos abertos on-line em massa".

Também entra nesse grupo o iTunes U, iniciativa da Apple que permite baixar, no iTunes, palestras e seminários universitários, de graça.

Independência

"A principal diferença entre os meus alunos da universidade e os on-line é a independência", diz Sinnott-Armstrong à Folha, por telefone. "Como minha disciplina na web possui um fórum, sinto que posso sentar e apenas vê-los se ajudarem."

Estudioso da epistemologia, ramo da filosofia que investiga a origem e a natureza do conhecimento, ele oferece a disciplina Pense Novamente: Como Raciocinar e Argumentar, a maior em número de alunos no Coursera, lançado em abril.

As universidades americanas não foram as únicas a abrir seus cursos na internet. Escolher aulas oferecidas por instituições de outras partes do mundo é, também, uma forma de ter contato com as respectivas culturas.

A Escola Federal Politécnica de Lausanne (França), presente no Coursera, oferece uma disciplina completa no idioma daquele país.

Outro exemplo é a disciplina Uma Nova História para uma Nova China, oferecida em inglês pela Universidade de Hong Kong.

No iTunes U, cinco instituições lusas, incluindo a renomada Universidade de Coimbra, têm vídeos de palestras e seminários em português.

Exatas X Humanas

Nas maiores plataformas de Mooc que existem atualmente, há prevalência de cursos das carreiras de exatas. Vários fatores podem explicar esse fenômeno.

"Estudantes de exatas têm naturalmente mais contato com línguas estrangeiras", diz Pollyana Mustaro, doutora em educação pela USP. Com aulas em inglês, estar acostumado ao idioma é essencial, argumenta.

Já Sinnott-Armstrong especula três motivos para haver mais cursos de exatas.

Primeiro, alunos de áreas como ciência da computação estão mais acostumados ao uso de tecnologia. Segundo, é mais fácil aplicar provas on-line com respostas mensuráveis que pedir textos ao aluno, situação comum em humanas.

Terceiro, vários cursos de humanas se baseiam em debates em sala de aula.

Brasileiros são muito presentes nos cursos

De São Paulo

Os alunos do professor Claiton Martins-Ferreira, 44, na UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul) aprendem redação acadêmica com uma professora da Universidade Stanford. Após assistir às aulas da disciplina Escrevendo em Ciências no Coursera, ele passou a indicá-la a seus estudantes.

"Escrever mal é um problema recorrente, principalmente entre alunos de graduação, por isso indico o curso", diz Martins-Ferreira. Pós-doutorando em biologia, ele fez várias disciplinas relacionadas à área. "É uma oportunidade para se atualizar."

Segundo os dados mais recentes, divulgados em agosto, o Brasil responde por 5,9% do total de alunos no Coursera, atrás dos EUA (38,5%) e seguido pela Índia (5,2%) e pela China (4,1%). Apesar de o Coursera ser a única plataforma a divulgar suas estatísticas, não é difícil encontrar brasileiros em outros sites.

Para Pollyana Mustaro, doutora em educação pela USP, a grande presença reflete a relação que os brasileiros têm com redes sociais. "O país está sempre entre os que mais usam redes sociais."

Após passar uma temporada no Brasil, na UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais) e na PUC-Rio, o professor Walter Sinnott-Armstrong, da Universidade Duke, acredita que a procura de brasileiros não se deve a uma eventual deficiência das universidades daqui. "Ter aulas em inglês faz diferença", diz. Assim, os alunos treinam o idioma enquanto aprendem.

Sem diploma

O empresário Felipe Benites Cabral, 30, assistiu às aulas de Introdução à Psicologia no site da Universidade Yale (oyc.yale.edu).

Sem ter completado um curso superior -largou ciências sociais e administração-, Cabral não se preocupa em conseguir os diplomas. "Não é meu foco", afirma. "Prefiro ficar com o conteúdo que com o certificado."

A situação é comum entre os estudantes daqui. Recém-formado em economia pelo Insper, Gustavo Amarante, 23, também não quis os certificados dos cursos a que assistiu em Yale.

Enquanto se preparava para os exames de mestrado no Brasil -em janeiro, vai para a PUC-Rio-, aproveitou para estudar teoria dos jogos e economia financeira. Assistiu aos cursos completos. "Para entender alguns termos técnicos, é preciso ver as aulas anteriores", explica.

Além da qualidade, outro motivo que leva alunos brasileiros a fazer cursos grátis on-line é a exclusividade.

Estudante do primeiro ano de marketing no Senac, a paulistana Carolina Kadix, 33, trabalha com webdesign há 12 anos. Nesse tempo, entretanto, não encontrou um curso como o que fez por Stanford, de interação entre computadores e humanos.

"Precisava aprimorar meus conhecimentos, mas não podia ir para outra cidade", diz ela. "No Brasil, só há algo equivalente em Curitiba." (Alexandre Aragão)

USP e Unesp são pioneiras em portais similares no país

De São Paulo

Duas iniciativas de universidades paulistas foram as primeiras a oferecer cursos nos mesmos moldes que as de universidades estrangeiras. A única diferença diz respeito à emissão de diplomas.

O primeiro desses projetos foi o Unesp Aberta (barnard.ead.unesp.br), lançado em junho. Nele, é possível assistir a cerca de 300 vídeos on-line, além de acessar materiais escritos e imagens de diversas disciplinas completas oferecidas pela universidade.

O site, elaborado pelo NEaD (Núcleo de Educação a Distância) da instituição, divide os conteúdos por área do conhecimento -humanas, exatas e biológicas.

O outro projeto que se destaca, lançado no final de agosto, é o portal de vídeos da USP (eaulas.usp.br), que também possui algumas disciplinas completas. Assim como a iniciativa da Unesp, oferece busca por palavras-chave e divisão de acordo com áreas do conhecimento. Também é possível procurar pelo nome do professor.

A ideia é que, no ano que vem, o sistema seja integrado à base de dados de buscas das bibliotecas da universidade, fazendo com que os conteúdos mostrados sejam tanto físicos -livros, periódicos etc.- como digitais.

Atualmente, no portal da USP, a área de humanas, principalmente pedagogia, é a que tem mais vídeos disponíveis: são 445. Em seguida, vêm exatas, com 385, e biológicas, com 174.

A aula mais popular é a de Introdução às Derivadas e Integrais, do professor Vanderlei Bagnato, do Instituto de Física de São Carlos.

A UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina) também possui um site de educação a distância aberto a todos (tvled.egc.ufsc.br). No entanto, a iniciativa não oferece disciplinas inteiras e nem tem busca por assunto. (AA)

Top 10, de graça
Cursos on-line das melhores universidades do ranking Times Higher Education (2012-13)

Caltech
Oferece três disciplinas, entre elas Princípios de Economia para Cientistas
coursera.org

Universidade Stanford
Presente em quatro plataformas, reúne seus 22 cursos em um site próprio
online.stanford.edu/courses

Universidade de Oxford
Tem cerca de 2.000 arquivos, entre áudio e vídeo, disponíveis no app da Apple
iTunes U

Universidade Harvard
Um curso de ciência da computação e outro sobre pesquisa na área médica
edX.org

Instituto de Tecnologia de Massachusetts
Primeira instituição do edX, tem três cursos, todos de carreiras de exatas
edX.org

Universidade Princeton
Ao todo, oferece nove disciplinas completas, como Introdução à Sociologia
coursera.org

Universidade de Cambridge
Possui 50 palestras e seminários on-line, destaque para os da área de direito
iTunes U

Imperial College
Vídeos de sete carreiras, incluindo engenharia, matemática e administração
iTunes U

Universidade da Califórnia em Berkeley
Possui quatro cursos on-line: três sobre tópicos de computação e um sobre robótica
edX.org

Universidade de Chicago
Boa variedade nas áreas de humanas, principalmente filosofia e ciência política
iTunes U

*Todas as universidades da lista têm conteúdo no iTunes U, plataforma da Apple com vídeos de seminários e palestras
Fonte: Top Vitrine - Campo Grande/MS