Redes sociais estimulam o debate na sala de aula
Antenado. Curioso. Angustiado. Sobram adjetivos para a chamada geração Y. Um deles é primordial: diferente. Também por isso, os nascidos entre 1978 e 1999 representam um desafio para os educadores.
O sistema educacional do Brasil é permeado por deficiências estruturais e se afasta cada vez mais da realidade desse jovem.
"Num mundo que produz informação em escala exponencial, a quantidade de matéria a ser aprendida pelos estudantes é gradualmente mais extensa, criando uma rotina que envolve ler, memorizar e reproduzir, sem estimular a associação e geração de novas ideias", define o educador Tom Coelho.
Ao professor resta integrar-se ao habitat do aluno, cuja criatividade é asfixiada. "Devemos ser protagonistas, e não espectadores passivos, entender as novas gerações e parar de criticá-las", recomenda Paulo Al Assal, fundador e diretor-geral da Voltage, agência de pesquisa de comportamento humano.
Ele não é expert em pedagogia mas é um crítico do sistema educacional. Al Assal pede atenção à identificação que esse jovem encontra nas redes sociais e elege o celular como "a" plataforma para interagir com eles.
Faz sentido levando em conta também a inclusão social promovida pelo telefone móvel às classes C e D. "Tem muito aluno vendo coisa no celular durante a aula. Os professores precisam usar isso".
A convivência de docentes com esse universo pode render frutos. O professor da Escola de Economia da FGV-SP, Marcos Fernandes, é prova disso.
"Mantenho a comunicação permanente dos alunos, aproveitando o excesso de memória paralela dessa geração", graças ao sistema Ning (plataforma on- line que permite a criação de redes sociais individualizadas), utilizado durante as aulas.
Tem aluno olhando para o teto mas que está prestando atenção, percebeu Fernandes. A fórmula está em aproveitar a plataforma para estimular debates, um dos ingredientes de atração da geração Y.
Na visão de Coelho, "o debate é um dos melhores caminhos para desenvolver o espírito crítico e alterar a metodologia convencional. Não apenas ideias e opiniões são compartilhadas, mas sobretudo integração e interatividade".
"Essa geração não respeita hierarquia. Foi a primeira que lidou com pais e mães trabalhando da mesma forma na sociedade. O filho ficou sozinho em casa e precisou se virar", diz Al Assal.
Portanto, "fazer um monólogo não vai conquistar a atenção desse jovem". O estudo da Voltage aponta que a geração Y gosta de questionar, participar e colaborar. O diretor da agência sente falta de laboratórios de ideias nas faculdades.
O professor da FGV reconhece que a sala tornou-se um ambiente mais participativo com o auxílio das redes sociais, sobretudo usando perguntas que exigem criatividade.
"Tinha aluno que eu não sabia o que passava na mente dele" afirma. Para Fernandes, agrupados em tribos, e diante da informação "commoditizada" na internet, os jovens querem se manifestar. "Houve estudante que se surpreendeu consigo mesmo".
Atenta à tendência da geração Y, a editora Campus-Elsevier prepara o lançamento de um sistema de biblioteca on-line em 2011. Sim, eles gostam de livros em papel. "A questão é o imediatismo, o conteúdo naquele minuto", diz Al Assal.
Conrado Mazzoni.
Fonte: Jornal Brasil Econômico
segunda-feira, 19 de julho de 2010
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