quarta-feira, 18 de agosto de 2010

A Internet como um desafio

Avançamos no desenvolvimento e no acesso à tecnologia da informação, mas não o suficiente para reduzir o fosso entre os dois "brasis" que se contrapõem nesse limiar do século 21.

Temos o moderno, conectado à era digital, universalizado, pleno de cidadania e competitivo nos negócios, em contraste com o Brasil profundo, arcaico e excluído, onde o acesso às conexões rápidas pela internet está restrito a menos de 6% dos domicílios.

Num país em franco desenvolvimento, a necessidade da banda larga se transformou numa grande demanda reprimida, um desafio ao poder público. Não é só a dimensão continental do país ou a falta de infraestrutura que conspiram contra.

A privatização e exploração restrita a poucos grupos econômicos criaram barreiras praticamente intransponíveis às classes de menor poder aquisitivo. No Brasil, esse serviço é um dos mais caros do mundo.

Para se ter uma ideia da enorme discrepância, basta comparar a situação do Brasil com a dos demais países. Aqui, uma conexão de um mega bite por segundo (MBps) custa, em média, R$ 40, o que limita a internet rápida a menos de 6% das casas.

No extremo do globo, no Japão, que tem a internet mais veloz, de 60 MBps, o serviço chega a 64% dos lares ao preço de R$ 0,50. Na Coreia do Sul, a preço similar, 97% dos domicílios têm acesso a velocidade de 46 MBps.

Os valores variam, mas em nenhum outro continente o patamar é tão alto como aqui. Na Suécia, onde a internet com velocidade média de 18 MBps chega a 69% dos domicílios, o valor de cada MBps é de R$ 1,30.

Nos EUA, com média de 4,8 MBps em 80% das casas, um MBps custa R$ 6. Como se vê, são valores infinitamente inferiores aos cobrados no Brasil.

O desafio é tornar a banda larga acessível a todas as classes. Um estudo do Banco Mundial aponta que nos países em que o acesso pelas conexões rápidas sobe 10%, o PIB cresce a uma taxa 1,3%, aumentando a renda, a qualidade de vida e melhorando o padrão de cidadania da população.

A internet é uma ferramenta indispensável para as classes sociais que estão deixando a pobreza ou subindo de padrão.

Países como a Itália e Finlândia , antecipando-se a uma tendência mundial, passaram a tratar o acesso à internet rápida como um direito fundamental. Como secretário de Ciência e Tecnologia do Rio, implantei um programa de banda larga gratuita, bancado pelo governo.

Atualmente, apenas na região da Baixada Fluminense, cerca de 4 milhões de pessoas têm internet rápida pelo sistema wi-fi e estão alcançando oportunidades que não imaginavam existir.

O Estado deve disponibilizar recursos para subsidiar um programa de inclusão em todo o território brasileiro, destinado às pessoas que não têm renda suficiente para adquirir a internet rápida.

Junto, devem entrar nos domicílios programas educacionais que disseminem o conhecimento, a qualificação profissional a distância, semipresencial, e que gerem oportunidades de negócio e acesso ao mercado de trabalho.

Esse é um dos caminhos para afastar o risco de um apagão de mão-de-obra.


Fonte: Jornal Brasil Econômico

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