quinta-feira, 6 de setembro de 2012

Na era virtual, o estudo em redes sociais 
  Sites de relacionamentos para universitários estimulam o compartilhamento de materiais acadêmicos.

RIO - Se depender de iniciativas como a dos estudantes Rodrigo Salvador e André Simões, da PUC-Rio, gastar várias horas do dia nas redes sociais poderá ser sinônimo de muito aprendizado para os universitários. Os dois lançaram recentemente o Passei Direto, um site de relacionamento gratuito, com fins educativos, voltado para jovens do ensino superior. Em ação semelhante, o site Ebah, criado por formandos da USP em 2006, já reúne mais de dois milhões de alunos trocando materiais de estudo.

Essas redes sociais acadêmicas têm como diferencial ferramentas que permitem o compartilhamento de arquivos, como textos da bibliografia pedida pelos professores, listas de exercícios ou avaliações. Depois de selecionar no site a graduação e as disciplinas cursadas, os alunos encontram outros colegas na mesma situação e, além de ganhar acesso ao material compartilhado, podem trocar mensagens tirando dúvidas e debatendo assuntos de determinada matéria. Apesar de às vezes até contarem com a participação de professores, as plataformas são totalmente gerenciadas pelos alunos e independentes das instituições de ensino.

Por enquanto, o Passei Direto é restrito a alunos da PUC-Rio, da PUC-Minas, da Unigranrio, da FGV-SP, da UFRJ e da Uerj, mas, nos próximos meses, será aberto a outras universidades. Em cerca de dois meses, a rede, que pode funcionar integrada ao Facebook, já atingiu cem mil cadastros.

— Nossa ideia era criar um espaço na internet para centralizar o conhecimento. Muitos estudantes já vinham criando grupos de estudo no Facebook. Mas essa rede não tem as ferramentas necessárias para uma interação acadêmica — explica Rodrigo Salvador, sócio-fundador do Passei Direto.

Estudante do 4º período de Relações Internacionais na PUC, Pedro Bertachini é um dos mais ativos na rede social e foi o primeiro a receber o status de “Rei da PUC” — título concedido aos alunos que mais colaboram com arquivos. Como prêmio, ganhou um livro didático no início do período. Segundo os fundadores, esse tipo de recompensa vai se estender também a outras universidades, como forma de estimular o compartilhamento de conteúdo.

— Comprei totalmente a ideia. Eu já espalhava arquivos para a minha turma pelo Drop Box, que era a plataforma que usávamos institucionalmente; então, foi fácil passar o material para a rede. Compartilhei cerca de 180 arquivos. Mas o grande diferencial do Passei Direto é que podemos ter acesso a conteúdo de outras graduações. Relações Internacionais, por exemplo, tem disciplinas de Direito, Sociologia, História. É muito útil — afirma Bertachini.

As redes sociais para universitários remontam às origens do Facebook. Criado por Mark Zuckerberg em 2004, o site era destinado inicialmente apenas a alunos de Harvard. A ideia do programador, no princípio, era criar um site que conectasse toda a universidade.

Em 2006, em São Paulo, Renato Freitas e Ariel Lambrecht, então estudantes da Escola Politécnica da USP, lançaram o site Ebah, uma rede social para o compartilhamento de arquivos. Cursando o último período da faculdade de Engenharia, eles estavam incomodados por ter que procurar listas de exercícios e outros materiais de estudo em lojas de xerox.

— Imaginávamos que se existisse todo aquele conteúdo disponível on-line seria mais econômico e organizado. Até que resolvemos nos juntar para tocar esse projeto — lembra Freitas.

O Ebah está disponível em praticamente todas as universidades reconhecidas pelo Ministério da Educação. São Paulo é o estado com maior participação no site, tendo 21% dos dois milhões de usuários. Minas Gerais e Rio vêm empatados em segundo lugar, com 10% dos cadastrados, cada um.

Já com um caráter institucional, a Universidade Federal Fluminense (UFF) também tem sua própria rede social, a Conexão UFF. Por ser administrada pela universidade, os professores centralizam o conhecimento. Para um aluno compartilhar determinado conteúdo, o arquivo deve ser aprovado pelo titular da disciplina.

O compartilhamento de textos e trabalhos acadêmicos, no entanto, esbarra nos limites da propriedade intelectual. Para o advogado José Carlos Vaz e Dias, professor de Direito da Propriedade Intelectual da Uerj, a reprodução reiterada de materiais pode ser classificada como violação ao direito autoral, mesmo que virtualmente:

— A reprodução de pequenos trechos de um livro pode ser permitida, em um primeiro momento, mas será violadora se for continuamente compartilhada para dar acesso a um número crescente de pessoas, mesmo que pela internet.

O advogado alerta também que quem usar o material compartilhado pelos colegas como de sua autoria cometerá crime de violação do direito moral do autor. Como sugestão aos desenvolvedores, para evitar problemas, o professor recomenda a realização de campanhas dentro das redes sociais para incentivar o respeito aos direitos autoriais, além de políticas punitivas, como a advertência ou expulsão de usuários que infrigirem a propriedade intelectual.
Fonte: O Globo

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